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Desde o Ventre Materno

Carlos Eduardo Taddeo

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Desde o ventre materno
Somos modelados pelos serial killers
Do topo da pirâmide para viver a infância em situação de risco
Acompanhada da subnutrição
Da negligência estatal e da desestruturação familiar

Desde o ventre materno somos modelados pelos assassinos sociais
Para viver a adolescência abaixo da linha da indigência, regada a abandono
Pólvora, armas de grosso calibre, tortura policial, tabaco
Bebida alcoólica, maconha, crack, cocaína e medidas socioeducativas

Desde o ventre materno, somos modelados pela playbozada tirânica
Para viver a fase adulta marcada pela mendicância
Pelos salários estratégicos, pelas matrículas prisionais
E as depressões em consequência das perdas violentas

Dia após dia em nosso desenvolvimento
Vamos sendo programados através da educação
Da política, da indústria de consumo e dos meios de comunicação
Para sermos os robôs que aceitam com naturalidade a violação do estatuto da criança e do adolescente
Da Constituição Federal, das leis de execuções penais e da declaração de Direitos Humanos
Vamos sendo programados para sermos as cobaias que não pensam de forma independente
Que só expressam opiniões e desejos pré-fabricados por inimigos

Um milésimo após o nascimento no vale da segregação
Nosso status de humano é reduzido a condição de produto descartável
Com prazo de validade de 15 a 24 anos, nos confeccionam para atender as expectativas do escravizador
Para repassar sua nine-nine para empunhar sua ponto 30
Para encerar suas McLaren para matar ou morrer pela marca esportiva
Que explora e discrimina o nosso próprio povo
Para sorrir diante da progamação televisiva e racista e genocida
Para transformar iguais em rivais e converter comunidades pobres em praças de guerra

Quanto mais sangue, mais audiência para a televisão
Mais filhos da puta eleitos, mais dinheiro para a indústria do medo
Para a indústria funerária, mais lucro para medicina de guerra exercidas nos hospitais públicos
Mais unidades carcerárias inauguradas
Mais lotes de armas e viaturas entregues, mais abono salarial pra PM
Pra Civil, pra Delegado, mais bens e propriedades pro Advogado, promotor e juiz

Quanto mais desinformação, menos motivo para a revolta
Mais conformismo com a favelização, com a miséria epidêmica
Com as migalhas do assistencialismo
Com o aprisionamento em massa da população carente
Com as cracolândias, com os esquadrões da morte da polícia
Com o modelo governamental de pacificação que produz anualmente
A cifra de quase 60 mil atestados de óbito

Os vereditos parciais não são por acaso, os enterros coletivos na periferia não são por acaso
Os analfabetos funcionais não são por acaso
As crianças soldado não são por acaso
As crianças prostituídas não são por acaso
A concentração de renda não é por acaso
A política em prol de financiadores de campanha não é por acaso
Cada pormenor hediondo do nosso massacre foi previamente milimetricamente arquitetado
Pelos carniceiros da elite, pelos carniceiros descerebrados
Que no lugar de investir numa sociedade justa e igualitária
Preferem vegetar em casulos de ignorância 24 horas por dia
Preferem definhar atrás de escoltas de guardas empresariais e estupidamente
Desfrutar de uma segurança ilusória com o rabo repleto de chips subcutâneos anti-sequestros

Podemos incendiar ônibus, mandar o comércio abaixar as portas, fazer rebeliões em presídios
Fazer passeatas contra o estado genocida
E até metralhar gambés em retaliação às chacinas diárias promovidas por policiais de touca ninja
Que mesmo assim a produção em série das nossas lágrimas jamais será cessada

Enquanto o favelado não enxergar a maquinação burguesa
Que mói impiedosamente a carne dos excluídos
Homens e mulheres serão asfixiados no transporte de presos
Corpos continuarão amontoados nas gavetas de rabecões
Mortos seguiram empilhados em quintais de instituto médico legais
Pessoas devido à quantidade de melanina e condição social
Ainda terão seus nomes escritos em autos de resistência fúnebres

Enquanto o favelado não acordar da hipnose da classe dominante
E passar a odiar seus algozes e passar a cobrar aquilo que é seu por direito
Continuaremos sendo matéria-prima da mais produtiva estatal
Continuaremos sendo a matéria-prima da fantástica fábrica de cadáver

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